Método utiliza ozônio e pode ser aplicado em regiões remotas ou na fase de resposta à desastres naturais
Publicado em 11/12/2024 - 10h
Uma pesquisa desenvolvida no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) demonstrou resultados positivos para um tema primordial em situações críticas, como atividades em regiões remotas ou após catástrofes naturais: o tratamento de água para consumo humano. A dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO), propõe uma técnica com a utilização de ozônio para eliminação de microrganismos que podem ser nocivos à saúde.
O estudo, intitulado “Estudo dos Efeitos do Gás Ozônio no Tratamento de Corpos D’Água Bruta para Uso em Hospital de Campanha”, foi desenvolvido pela Major Dentista Fabrizia Henriques Bonates, sob orientação do Professor Doutor Argemiro Soares da Silva Sobrinho, do Programa de Pós-Graduação em Física do ITA, e pela Coronel Dentista Liana Kalczuk, Coordenadora Adjunta do Laboratório de Bioengenharia do ITA, Doutora pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). O projeto foi desenvolvido na área de Bioengenharia e Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN-BIO) do PPGAO, com experimentos conduzidos nos laboratórios de Bioengenharia e de Plasmas e Processos, ambos do ITA.
A dissertação apresenta o desenvolvimento de um equipamento portátil e de baixo custo para a sanitização da água por meio do ozônio, utilizando painéis fotovoltaicos, destinados a Hospitais de Campanha (HC) em operações do Grupamento de Apoio Logístico de Campanha (GALC) e a Diretoria de Saúde da Aeronáutica (DIRSA). Os resultados apresentados durante as análises foram promissores, demonstrando eficácia no método de eliminar patógenos e melhorar a potabilidade da água, após o uso de ozônio em amostras de diferentes fontes naturais.
O Coordenador do PPGAO, Coronel Aviador Sérgio Rebouças, Doutor em Ciências e Tecnologias Espaciais pelo ITA, destacou a importância das pesquisas realizadas sob a direção do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) por meio do PPGAO. “Quando falamos de ensino e pesquisa, é essencial saber converter conhecimento científico em tecnologias inovadoras, pois se não houver a percepção de um benefício gerado pela ciência, ela não tem valor algum. Além disso, há a necessidade de a sociedade compreender que as tecnologias militares, geralmente, são duais, ou seja, possuem contribuição direta também para a sociedade civil”, disse.
O USO DO OZÔNIO
O estudo desenvolvido no ITA surge em um momento crítico, marcado por situações recentes de instabilidade mundial, como a pandemia de COVID-19, o conflito armado entre países e calamidades decorrentes de eventos climáticos extremos, como as chuvas no Rio Grande do Sul. Essas realidades aumentam a demanda por Hospitais de Campanha para atender a população em emergências e desastres naturais, onde a qualidade da água é uma preocupação prioritária, devido ao risco de contaminação acidental ou intencional, conforme alerta o Manual de Doutrina de Operações Conjuntas das Forças Armadas.
Os resultados indicam que o ozônio pode ser uma alternativa eficiente ao cloro, especialmente em cenários de campanha, onde a logística de transporte é desafiadora. Segundo as análises da Major Fabrizia, o ozônio consegue remover da água contaminantes como agrotóxicos, metais pesados e medicamentos, sem gerar subprodutos cancerígenos em contato com compostos orgânicos, ao contrário do cloro. Em corpos d’água com alto grau de poluição, o tratamento com ozônio deve ser complementado com processos como filtração e coagulação para garantir a qualidade da água conforme os padrões exigidos pela legislação.
No estudo, o ozônio demonstrou eficácia na melhora dos parâmetros físico-químicos e na eliminação de microrganismos, como Coliformes Totais e Escherichia coli, nas amostras analisadas. A técnica se mostrou uma solução viável e de baixo custo para fornecer água potável em operações militares, contribuindo diretamente para aumentar a capacidade operacional das Forças Armadas em apoio às populações em situação de calamidade ou em áreas remotas, como a Amazônia.
Fonte: ITA
Foto: ITA