Casimiro Montenegro Filho nasceu em Fortaleza, Estado do Ceará, em 1904 e, para tornar-se piloto do Exército brasileiro, aos 19 anos de idade mudou-se para o Rio de Janeiro.
Quando tenente, ao fazer o voo inaugural entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, acabou por criar o Correio Aéreo Nacional, em 1931. Naquela época, os pilotos eram expostos às mais diversas e rigorosas condições de clima e temperatura, sendo obrigados a realizar aterrissagens forçadas em campos improvisados e a pilotar sem instrumentação.
Casimiro cruzou o país desbravando novas rotas para o Correio Aéreo Nacional, ligando o Rio de Janeiro aos mais distantes rincões do Brasil. Sua grande obra, porém, seria concluída anos mais tarde: a criação do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
Em 1941, resultante da união da aviação do Exército e da Marinha, foi formado o Ministério da Aeronáutica, cabendo a Casimiro a Subdiretoria Técnica da Aeronáutica. Assim, em 1943, viajou aos Estados Unidos com a incumbência de trazer um lote de aviões norte-americanos, tendo estendido sua visita para conhecer o MIT – Massachusetts Institute of Technology. Casimiro retornou maravilhado com a ideia de criar um Instituto semelhante no Brasil, com o objetivo de formar engenheiros de excelência e desenvolver tecnologia aeronáutica.
No Brasil da década de 1940, um país essencialmente agrícola e com uma indústria mínima, incapaz de fabricar até bicicletas, o sonho de projetar e fabricar aviões parecia excêntrico aos olhos de muitos de seus companheiros. No entanto, com a ajuda do professor e chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica do MIT, Richard Harbert Smith, Casimiro desenvolveu as diretrizes desta nova instituição.
Assim, nos anos finais da década de 1940, Casimiro envolveu-se diretamente na construção de seu sonho, na cidade de São José dos Campos, Estado de São Paulo.
Em 1945, Casimiro fez uma apresentação a um grupo de oficiais do Estado Maior da Aeronáutica, no local que seria o futuro campus do ITA. Sobre o chão e seguro por pedras, expos uma carta aerofotogramétrica e, ora apontando para o papel, ora para o vasto descampado, disse o visionário: “Aqui construiremos o túnel aerodinâmico, mais à direita o laboratório de motores, ali a área residencial: casas e apartamentos para os professores, oficiais e pessoal da administração, alojamento para os alunos. Ali à esquerda, os edifícios escolares e laboratórios. Aqui será o futuro aeroporto. Esta área está reservada para a indústria aeronáutica. Tudo isto constituirá o Centro Técnico da Aeronáutica.”
Ao se despedir da reunião, depois de lançar os olhos na planície totalmente vazia, gracejou o chefe do grupo, em total descrédito a Casimiro: “Até a vista, Júlio Verne”!
O futuro provou que a visão de Casimiro estava correta e seu sonho era possível. No início da década seguinte, o ITA tornou-se uma realidade. Surgiu, assim, uma escola de engenharia de alto nível no país, com instalações adequadas, professores experimentados, inicialmente trazidos do exterior e residindo no próprio campus, juntamente com os alunos. Ao redor do ITA formou-se o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), um complexo de pesquisa e desenvolvimento na área aeroespacial.
Na sequência, em 1969, quando o avião para linhas regionais Bandeirante havia tomado forma, foi criada no mesmo campus a empresa EMBRAER, atualmente a terceira maior fabricante mundial de aviões.